Apesar da crise, ânimo para investir no país se mantém
Nem a forte crise econômica, nem a crise política do Brasil tiraram o ânimo das empresas japonesas para investir no país. Os dados do Banco Central (BC) divulgados no fim de novembro mostram que, apesar da queda de US$ 1,6 bilhão nos aportes – de US$ 3,78 bilhões, entre janeiro e outubro de 2014, para US$ 2,1 bilhões, no mesmo período deste ano -, a participação do Japão corresponde a 5,15% do total de US$ 40,74 bilhões aplicados por empresas estrangeiras no país nos dez primeiros meses do ano. O valor mantém o Japão no quinto lugar que ocupa desde 2013 entre os maiores investidores no Brasil
De acordo com Alberto Mori, sócio do Trench, Rossi e Watanabe Advogados, um dos escritórios que assessoram capitais japoneses no Brasil, nos últimos 12 meses a atividade das empresas japonesas interessadas no Brasil foi maior do que no ano anterior, resultado que, lembra, só aparece nas contas do BC tempos depois. Para José Roberto Martins, outro sócio do escritório, em 2016 números continuarão acima de US$ 2 bilhões.
Segundo Martins, apesar da recente concentração no agronegócio, as empresas japonesas mantêm interesses diversificados no Brasil. Setores de infraestrutura, como o portuário, óleo e gás e tecnologia estão entre os mais demandados. Na área de fármacos também há novidades em estudos pelos nipônicos, embora europeus e norte-americanos atuem mais agressivamente nesse mercado. Para Mori, as empresas do Japão estão acompanhando “com cautela” o debate institucional que ocorre no Brasil e não veem risco para investimentos de longo prazo.
Na avaliação de Rodrigo Ferreira Figueiredo, sócio do escritório Mattos Filho, que também presta assessoria a empresas japonesas, o fato de apenas uma das 13 operações de capital entre os dois países, nos últimos 12 meses, não ter tido capital japonês na ponta compradora prova que não houve arrefecimento no interesse do país pelo Brasil. “As dificuldades atuais do Brasil não afetam os investimentos no longo prazo”, diz. Em sua opinião, os investidores estão ansiosos por oportunidades que compensem a maturidade alcançado pela economia e pelo mercado doméstico do seu país e consideram que os ativos no Brasil estão baratos, em consequência da crise e da desvalorização cambial, e que o Brasil tem potencial para crescer.
De acordo de Jun Makuta, um dos coordenadores do “Japan desk” do escritório Tozzini Freire Advogados, as perspectivas para os investimentos japoneses são muito boas. Segundo Makuta, como estão há muito tempo no Brasil, as empresas japonesas já passaram por outras crises e viram que seus investimentos não foram afetados no longo prazo. “Eles olham um horizonte de 20 a 30 anos”, diz. Para Ana Claudia Utumi, especialista em tributos do mesmo escritório, há um aspecto tributário que estimula a aposta no Brasil: o tratado que rege os negócios entre os dois países, assinado em 1967 e renegociado em 1976, isenta de tributação o ganho de capital auferido pelas empresas japonesas no Brasil. Segundo ela, é por isso que os japoneses não usam empresas “offshore” quando investem aqui.
Outra fonte, fora da área jurídica, que acompanha de perto as intenções de investimento dos japoneses no Brasil, afirma que, recentemente, os japoneses relacionaram seis segmentos, além do agronegócio, como prioritários nos seus negócios com o Brasil, sendo um deles a cooperação internacional em terceiros países, no qual se inclui a parceria tecnológica com a Embrapa no ProSavana, projeto que busca repetir na savana de Moçambique o sucesso com a cultura de grãos no cerrado brasileiro.
Outros setores prioritários são os de óleo e gás, que teve a confirmação da concorrência para a compra de 49% da Gaspetro (grupo Petrobras) pela Mitsui por R$ 1,9 bilhão – e o automobilístico, além de infra-estrutura e tecnologia espacial, com destaque para o uso de satélites no controle de desastres natu
Fonte: Valor Econômico/Chico Santos | Para o Valor, de São Paulo