Encomendas devem crescer no 2º semestre
A normalização dos estoques e a redução na alíquota de importação de alguns tipos de aço trouxeram mais otimismo para setores que são grandes consumidores do insumo em um cenário de moderado crescimento da economia. De acordo com representantes de diferentes setores, a redução da alíquota que incide sobre o aço importado ajudou a segurar o preço doméstico e também ficou para trás a escassez que vigorou de setembro de 2020 a julho 2021, em decorrência dos efeitos da pandemia sobre a produção.
Há quem aposte em aumento de até 5% do consumo de aço no segundo semestre. É o caso dos fabricantes de máquinas e equipamentos que encerraram os primeiros seis meses com produção 1,3% menor sobre 2021 e nível médio de utilização da capacidade instalada de 78,4%. Apesar do balanço negativo no início do ano, José Velloso Dias Cardoso, presidente executivo da Abimaq, entidade que representa o setor, mantém a previsão de alta nas compras do setor. “O ritmo de produção de máquinas define o volume do consumo de aço no setor e estamos ganhando velocidade nos pedidos em carteira.”
Pesquisa feita pela Abimaq revela que a intenção de investimentos está 68% acima do ano passado, atingindo R$ 15 bilhões. A contratação de mão de obra cresceu 8% no primeiro semestre em relação a 2021 e a estimativa é de aumento de 5% no consumo até dezembro. O aço mais consumido no setor e no país é o plano laminado a quente, seguido do laminado a frio, barras e galvanizados, informa.
A tarifa para importação de vergalhões, por exemplo, caiu de 10,8% para 4%, medida anunciada em maio pelo Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex). Segundo Velloso, os preços tiveram um movimento de queda a partir do final do segundo trimestre, mas ainda estão acima dos praticados na importação. “O aço produzido no mercado interno chega a custar, em alguns casos, mais de 20% se comparado ao internacional”, diz. O preço de exportação atual de bobinas laminadas a quente – principal parâmetro da indústria, em US$/tonelada – está 24% menor do que em junho do ano passado.
A produção brasileira dos aços longos, segundo Odair Senra, presidente do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), é concentrada e falta concorrência, o que pressiona os preços no país. Por conta disso, o executivo conclamou empresários da área a criarem um pool para importar. Mas a proposta não avançou. “Está em standby, uma vez que com a desaceleração dos aumentos do preço, as construtoras seguem comprando no mercado interno”, afirma.
Pesquisa mensal do Custo Unitário Básico (CUB), feita no Estado de São Paulo, mostra que em julho o preço do vergalhão caiu 0,5% na comparação com junho, acumulando alta de 2,84% no primeiro semestre, e queda de 0,75% na comparação com junho de 2021.
Apesar de uma economia ainda fragilizada, o setor empregou mais 184.748 trabalhadores no semestre, alta de 8% na comparação com o número empregado em dezembro, em todo país. A construção, segundo ele, encerrou o primeiro semestre em franca atividade, enfrentando desafios como aumento dos preços e elevação dos juros. “Acredito que o PIB encerre o ano com alta de 3%”, prevê.
A válvula propulsora, segundo Cristina Zanella, diretora executiva do departamento de competitividade e economia estatística da Abimaq, são os segmentos “de máquinas e equipamentos agrícolas, com alta de 10%, e a construção civil, que cresceu 20%, ambos no primeiro semestre”. “Juntos, respondem por 50% de máquinas e equipamentos. Já a indústria automobilística tem andado de lado, bastante prejudicada pelo desabastecimento de insumos”, afirma.
Segundo relatório da Associação Latino Americana de Aço (Alacero), a demanda por aço no país diminuiu 9,6% na construção civil e 8,9% na indústria automotiva, no primeiro trimestre em relação a igual período de 2021. Entretanto, cresceu 4,4% em petróleo e gás e 1,4% em energia. A entidade conecta as cadeias de consumidores e produtores de aço na região. O estudo estima que em 2022 a região absorverá um volume 8% superior em relação a 2021.
Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), acrescenta que não existe um aumento de consumo linear de aço. “Enquanto alguns segmentos estão em queda outros estão em plena ascensão entre as 20 diferentes áreas de atuação associadas”, diz. No segmento de infraestrutura há uma demanda forte por tubulações de aço e outros equipamentos voltados para a área de saneamento básico. Energia e geração também estão em alta, seguido de óleo e gás, diz ele.
“Os comportamentos do aço são distintos pela própria natureza da variação de tipos”, diz, ao frisar que os leilões ocorridos nessas áreas alavancam o consumo. Cantoneiras para estruturas de torres de transmissão de energia, segundo ele, estão com demanda em alta. “Apesar de o Brasil produzir cantoneiras, as companhias terão que importar para suprir a demanda.”
Já o setor de máquinas rodoviárias está em baixa. “Mais de 65% das rodovias estão nas mãos do governo federal cujos investimentos em infraestrutura caíram de R$ 30 bilhões há quatro anos para R$ 5 bilhões hoje”, afirma Tadini.
Fonte: Aço Brasil