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Gerdau investe R$ 700 milhões em “supermáquina” de olho em veículos elétricos e híbridos

A Gerdau quer ganhar cada vez mais espaço na fabricação de carros híbridos e elétricos no Brasil. Essa foi a mensagem deixada por Gustavo Werneck, CEO da companhia, nesta terça-feira, 13, em uma cerimônia realizada na fábrica de Pindamonhangaba (SP). A ocasião? Inaugurar oficialmente um novo equipamento, que visa melhorar a qualidade do aço produzido para a indústria automobilística. Em resumo, a nova máquina permite vender um produto melhor, mais leve e com menos emissões de carbono, que não é direcionado às carcaças, mas sim para um conjunto de outras peças no motor, transmissão e suspensão. Hoje, um veículo leve, de 1,5 tonelada, tem 10% do seu peso vindo do aço.

“O setor automotivo, além de ser consumidor de aços especiais, tem um papel superimportante em mobilidade e sustentabilidade. O futuro do segmento, baseado nos compromissos de descarbonização, só será possível com a contribuição da indústria do aço de baixo carbono, como o que estamos fabricando em Pindamonhangaba. Um produto mais leve, mais limpo e com melhor produtividade é essencial para a indústria”, afirmou Guilherme Gerdau, presidente do conselho de administração, na cerimônia.

O investimento para se preparar para essa demanda vem em um bom momento financeiro para a companhia. Em 2022, a Gerdau teve a maior receita líquida anual de sua história, com R$ 82,4 bilhões, e o segundo melhor Ebitda ajustado anual, de R$ 21,5 bilhões. No primeiro trimestre desse ano, a trajetória positiva continuou, com resultados acima das expectativas do mercado principalmente impulsionados pela operação americana — reflexo tanto da demanda por infraestrutura nos Estados Unidos quanto das melhorias de produtividade conduzidas ao longo dos últimos anos.

“O primeiro trimestre de 2023 marca, possivelmente, o sétimo resultado reportado consecutivo acima do esperado nos últimos dois anos”, escreveram os analistas Bruno Lima, Caio Greiner e Leonardo Correa, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), em relatório recente. Na visão deles, a Gerdau não passou por um ciclo de redução nas estimativas de lucros — como outras empresas na cobertura do banco, como Vale, CBA, Suzano e Klabin — e, mesmo assim, teve uma queda “indiscutível” de 15% no preço das ações ao longo do ano, o que cria uma oportunidade de compra dos papéis.

Com uma geração de caixa forte e endividamento baixo, a Gerdau aproveita o momento para investir. No caso dos carros elétricos, trata-se de uma aposta em um mercado ainda embrionário no país. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) ainda não tem estatísticas do tamanho da produção no país, para ter uma ideia. Existem apenas dados relacionados à venda desses veículos. De janeiro a maio, foram licenciados 16,3 mil automóveis com algum grau de eletrificação, o que equivale a aproximadamente 4% do total nacional.

Em relação à produção, existem apenas iniciativas pontuais. A Volkswagen Caminhões e Ônibus, por exemplo, tem o e-Delivery, modelo de caminhão elétrico, e recentemente começou os testes para um ônibus elétrico também a ser produzido no país. Nos carros, ainda não há modelos 100% elétricos em produção, mas apenas duas montadoras produzindo híbridos flex. Ainda assim, o tema segue ‘quente’ em discussões. Nesta quarta, 14, acontece em Brasília um evento promovido pela associação para discutir o tema, reunindo autoridades do poder público e players do setor privado.

Participar de todo esse crescimento, para a Gerdau, é uma tarefa a ser cumprida desde já. E que cobra, é claro, seu custo. A cifra é de exatos R$ 700 milhões, já desembolsados do caixa da empresa. O dinheiro foi direcionado à nova máquina, lançada nesta semana, que vai contribuir para esse mercado em ascensão por meio de um processo chamado de lingotamento contínuo. Pensar num investimento de quase R$ 1 bilhão chama a atenção, mas ver o equipamento ao vivo ajuda a desmistificar o tamanho do aporte. Aos olhos leigos, o tal novo maquinário é tão grande que lembra uma montanha-russa. O tamanho é proporcional à tarefa que o equipamento entrega: do ‘engenheirês’ para o português, é responsável pela produção em alta qualidade da matéria-prima das barras de aço, os chamados tarugos (que são, em uma analogia simples, blocos de aço, posteriormente transformados em barras no processo de laminação).

A nova máquina permite que todo o processo de derretimento e moldagem dessa matéria-prima seja feita de uma forma mais eficiente, com pontos como o acompanhamento da qualidade do aço produzido a cada 100 milímetros (algo que não existia antes nessa precisão). Todas as notificações são passadas a uma sala de controle, com diferentes telas. Caso alguma anomalia seja apontada, técnicos vão até o local para verificar o que aconteceu e, no caso de algum ‘defeito’, a parte com problemas é separada do resto do ‘bloco’, sendo devolvida ao processo de derretimento do aço. Se houver algum problema muito grande, a máquina também permite que seja fechado o veio por onde pinga o aço derretido para inspecionar o que está acontecendo.

O processo em si não é novo. A Gerdau fazia essas mesmas etapas antes, mas com um maquinário mais antigo, que não permitia chegar a esse nível de detalhe, de bate-pronto. Além disso, a novidade permite produzir ‘blocos’ de aço de tamanhos diferentes dos que eram produzidos com o maquinário antigo, o que também se traduz em uma gama maior de produtos que podem ser fabricados a partir dele.

Antes do evento desta semana, a máquina nova já tinha obtido todas as licenças de funcionamento e, mesmo depois da inauguração, ainda está em um período de curva de aprendizado. Hoje, os produtos que saem dela estão em fase de homologação junto aos clientes da companhia.

Mais investimentos à vista: São Paulo em foco

O investimento pela nova máquina não deve ser o único realizado pela fabricante de aço em um horizonte de curto prazo. Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, afirmou ao EXAME In no evento que a companhia planeja investir outros R$ 4o0 milhões em um novo centro de reciclagem (o aporte ainda tem de passar pelo aval do conselho de administração). Hoje, a empresa é a maior recicladora da América Latina, com 11 milhões de toneladas recicladas anualmente. Em relação à produção, esse montante é suficiente para cobrir 71% da capacidade produtiva.

O novo centro também deve ficar no estado de São Paulo, uma das maiores regiões de atuação, hoje. Por aqui são 6 mil colaboradores, sendo 2,5 mil só na fábrica de Pindamonhangaba. Nascida no Rio Grande do Sul, a Gerdau migrou até mesmo sua estrutura administrativa para a região em 2018. De lá para cá, já foram investidos R$ 1,5 bilhão no estado.

“Os investimentos refletem a visão de longo prazo positiva, com a valorização da indústria para o crescimento econômico e o consequente desenvolvimento dos estados e municípios. É um setor que vem perdendo espaço no PIB brasileiro, um comportamento que também se reflete na indústria paulista, que tem se tornado menos competitiva. Temos visto uma importante melhora no ambiente de negócios no estado, que fortalece as condições para a Gerdau investir na região”, disse Guilherme Gerdau, presidente do conselho de administração, no local.

Para falar dessa mudança no ambiente de negócios do lado do setor público, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, compareceu à cerimônia de lançamento e falou em seguida ao executivo, reforçando um ponto já defendido em ocasiões anteriores: a necessidade de reindustrialização do estado. Um ponto para o qual, segundo ele, a reforma tributária cumpre um papel essencial.

“Enquanto a reforma não sai, não vamos ficar parados. Estamos trabalhando com incentivos, redução de alíquota, usamos todo o arsenal que está à nossa disposição. Com isso, já temos R$ 167 bilhões de investimento compromissado”, afirmou.

Do lado da Gerdau, apesar de o governo não contribuir com dinheiro para os investimentos realizados pela companhia, o papel da intervenção pública é fundamental no sentido de conceder licenças de operação para os equipamentos e em desburocratizar processos. É com esse ambiente, de “prosperidade” para a região, que a empresa conta para continuar investindo e encontrando novas rotas de crescimento. Somado a uma operação sólida, de baixo endividamento, reúne, para a companhia, um conjunto de fatores positivos de investimento para continuar aumentando a presença no futuro do país. Começando pelos carros elétricos.

Fonte: Exame

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