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Julho surpreende, mas indústria deve seguir em ritmo lento

A produção industrial de julho teve desempenho melhor do que o esperado ao recuar só 0,2% ante junho na série com ajuste sazonal. A surpresa positiva, porém, não altera o quadro de crescimento lento do setor e da atividade em geral no terceiro trimestre, dizem analistas. A produção de veículos (-4,5%) e a de alimentos (-1,7%) caíram na comparação mensal, o que limitou o desempenho médio da indústria, apesar de 16 dos 26 segmentos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) terem subido no período.

Pela ótica mais positiva, a indústria brasileira segue acima do nível pré-greve dos caminhoneiros: a produção está 0,3% maior do que em abril e 1,2% mais forte do que a média do primeiro trimestre. Mas a decomposição por componentes mostra um avanço de baixa qualidade, uma vez que caíram no período aqueles mais ligados aos investimentos, uma medida para estimar a atividade futura, destaca Artur Passos, economista do Itaú.

No segmento de bens de capital, houve recuo de 6,2% de julho, levando a um nível 0,2% menor do que nos três primeiros meses do ano. Já os insumos da construção caíram 3% no período e operam 0,3% aquém do primeiro trimestre.

De acordo com projeção do Itaú, indicadores coincidentes como licenciamento de veículos, confiança da indústria e consumo da energia sinalizam alta dessazonalizada de 0,2% da produção em agosto, com avanço de 2,5% na comparação anual, abaixo dos 4% registrados em julho na mesma comparação.

O que ajudou a manter a indústria relativamente estável em julho foi a produção de bens intermediários, que cresceu 1% na margem. Nesse componente, estão produtos manufaturados ou matérias-primas utilizadas na produção de bens finais ao consumidor ou mesmo outros bens intermediários.

O resultado de julho veio após dois meses de variações bruscas. Em maio, houve tombo de 10,9%, refletindo a paralisação dos caminhoneiros, seguido por uma alta em junho de 12,9% – já revisada; a estimativa anterior apontava expansão de 13,1%. Após os 11 dias de greve, no entanto, a indústria pode ter acelerado em demasia a retomada, segundo André Macedo, gerente de coordenação do IBGE. “A indústria pode ter produzido muito em junho, dimensionando mal, e ter tido que reduzir o ritmo no mês seguinte.”

Além disso, a melhora veio em segmentos difíceis de estimar o nível de atividade, como equipamentos de transporte (alta de 16,7% na margem) e produtos químicos (4,3%), afirma Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, o que explica o desvio ante a expectativa média do mercado. A estimativa da LCA para o ano continua a mostrar alta de 2,8% da produção industrial, cifra que já esteve em torno de 4% quando as perspectivas para a atividade eram mais otimistas.

Preliminarmente, a LCA projeta em agosto alta de 1,4% da produção industrial em base anual e contração de 0,6% na análise mensal, com algum viés de baixa por causa de interrupções em importantes unidades industriais. Ele cita a explosão na Replan, maior refinaria da Petrobras, ocorrida em 20 de agosto, e o acidente na unidade de Ipatinga (MG) da Usiminas, no início do mês passado. “O setor de refino vinha ajudando bastante a produção industrial e provavelmente deve diminuir esse ritmo.”

Apesar da alta nos emplacamentos de veículos pela Fenabrave em agosto, divulgada anteontem, Nishida diz que é preciso observar a continuidade da crise argentina, que absorve boa parte da produção interna de bens industriais brasileiros, em especial a do segmento automotivo.

O economista ainda destaca que no segundo semestre a economia pode receber influência positiva da liberação de recursos do PIS/Pasep, que deve incentivar o consumo das famílias. Mas as incertezas econômicas com a sucessão presidencial vão atuar na direção contrária, limitando a expansão da atividade.

Para a economista-sênior do Santander, Tatiana Pinheiro, a perda de dinamismo da indústria é clara. “O dado não é suficiente para dizer que o setor industrial está mantendo o ritmo de recuperação de antes da greve”, diz. Para ela, a queda da confiança e a deterioração das condições financeiras, como a taxa de câmbio, vão limitar a retomada no segundo semestre.

Na semana passada, o Santander começou a divulgar um índice de condições financeiras, o SAN-ICF, que mostra um viés menos expansionista no terceiro trimestre do que na primeira metade do ano. O indicador sintetiza variáveis como a taxa de juros futura, a taxa de câmbio e o risco-país. De acordo com o Santander, há forte correlação do indicador com a atividade econômica.

Fonte: Aço Brasil 

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