Minério eleva alavancagem e Vale reage com corte de custos
A volatilidade nos preços do minério de ferro vai continuar a influenciar o desempenho da Vale a curto prazo, apesar dos esforços da companhia em avançar no corte de custos, na visão de analistas ouvidos pelo Valor. A queda nos preços da commodity reduz a receita e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da mineradora. Com isso, há desdobramentos em relação ao nível de alavancagem. No segundo trimestre, o endividamento da empresa fechou em nível superior a três vezes o Ebitda, mais do que o dobro na comparação com um ano antes. No mercado, há estimativas de que esse indicador, observado de perto pelos investidores, possa crescer ainda mais até 2016.
A Vale não acredita que isso vá acontecer e vem tomando medidas para garantir maior margem na atividade de minério de ferro, responsável por cerca de 80% do Ebitda da companhia no segundo trimestre. No fim desse período, a relação entre dívida bruta e Ebitda ajustado da companhia ficou em 3,3 vezes. O indicador foi 125% superior se comparado à relação de uma vez e meia entre as duas medidas verificada no balanço da empresa entre abril e junho de 2014. “O aumento da razão dívida bruta/Ebitda se deu principalmente pela diminuição do Ebitda, que ocorreu pela redução do preço das commodities no mercado internacional”, informou a Vale.
A mineradora afirmou que continua a trabalhar para garantir um Ebitda “saudável”, reduzindo custos e despesas. “No primeiro semestre de 2015, nossos custos e despesas sem depreciação caíram US$ 1,6 bilhão em comparação com o primeiro semestre de 2014, apesar de termos aumentado nosso volume de vendas.” A relação entre dívida bruta e Ebitda da Vale poderia ser superior a 5 vezes em 2016, segundo previsões. “Não vemos esse cenário como provável, pois não pretendemos aumentar nossa dívida bruta”, disse a empresa. Quanto ao Ebitda, a Vale diz não ter influência sobre o preço do produto final uma vez que o mercado é “competitivo”.
Para 2016, a Vale espera maior geração de caixa operacional, com preços realizados melhores e menores custos
Ontem, em apresentação na BM&F Bovespa, o diretor-executivo de finanças da Vale, Luciano Siani, disse que a empresa continua a gerenciar o seu perfil de endividamento. O cronograma de amortização mostra que 80% da liquidação da dívida vai ocorrer depois de 2018. Siani mostrou que a Vale tem US$ 7,3 bilhões disponíveis em linhas de crédito compromissadas. A Vale afirmou que está trabalhando para aumentar seu volume de vendas e para diferenciar seu produto ao ofertar minério de maior teor de ferro. “Pelo lado dos custos e despesas, continuaremos com os esforços de redução, para melhorar nossas margens operacionais.”
Em termos nominais, a dívida líquida da Vale fechou o segundo trimestre do ano em US$ 26,5 bilhões, 14,3% acima de um ano antes. A dívida bruta ficou praticamente estável. “A dívida [líquida] no segundo trimestre aumentou, como já prevíamos, já que neste período apuramos os recebimentos de vendas do primeiro trimestre que são sazonalmente mais fracos”, disse a companhia. A tendência para o segundo semestre, segundo a empresa, é que haja reversão desse incremento, uma vez que os volumes de vendas são superiores no segundo semestre.
No começo de 2015, os bancos chegaram a reduzir suas projeções de Ebitda para a Vale. O Ebitda ajustado da Vale no primeiro semestre foi de US$ 3,8 bilhões, 53% abaixo dos US$ 8,1 bilhões de janeiro a junho de 2014. Se o resultado do primeiro semestre for anualizado, chega-se a um número de US$ 7,6 bilhões para 2015, mas o segundo semestre, em termos sazonais, costuma ser mais forte. Para 2016, a Vale espera ter geração de caixa operacional maior, com preços realizados melhores e menores custos operacionais até o porto, bem como menores custos de frete. “Também estaremos crescendo os volumes de produção”, disse a companhia. “Nosso investimento para 2016 será substancialmente menor que o de 2015, ajudando na melhora do fluxo livre de caixa” (ver a reportagem Mineradora reduz plano de investimento).
A Vale entende que continua a ter posição competitiva na indústria, apesar das maiores distâncias em relação à China. “Nosso custo caixa é o menor da indústria e nossa realização de preços é maior que a de nossos concorrentes.” Parte importante da produção da Vale (50 milhões de toneladas em 2015, em bases anualizadas) corresponde às pelotas, que têm prêmio em relação aos finos de minério. “Se analisada de forma consolidada [finos de minério e pelotas], nossas margens seriam ainda maiores.”
Fonte: Valor Econômico/Por Francisco Góes | Do Rio