Queda do PIB no 2º trimestre deve ficar mais perto de 10% do que de 15%, dizem economistas
Abril marcou o pior momento para a economia brasileira, mas o fundo do poço foi um pouco mais “raso” do que o previsto inicialmente, enquanto indicadores disponíveis para maio e junho mostram reação modesta da atividade econômica. Embora a incerteza adiante continue elevada, economistas avaliam que os dados conhecidos sinalizam tombo menos pronunciado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, mais perto de 10% do que 15%. A onda de revisões pessimistas para o desempenho da economia brasileira em 2020 também deve ser contida.
Divulgado hoje pela autoridade monetária, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 9,73% entre março e abril, feitos os ajustes sazonais, depois de ter recuado 6,16% na medição anterior (dado revisado de retração de 5,9%). Foi o pior resultado para o mês da série histórica do BC. Conforme esperado, a medição refletiu as medidas de isolamento social adotadas para conter o avanço da pandemia de covid-19, que derrubaram produção, vendas do comércio e prestação de serviços.
Embora tenha metodologia de cálculo diferente das Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE, o IBC-Br é considerado uma boa aproximação do que seria o comportamento mensal do PIB.
Segundo Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, os indicadores de abril confirmaram que o mês foi o pior do ano em termos de atividade, mas há setores mais resistentes que amorteceram a queda, como a produção de alimentos, papel e celulose e produtos farmacêuticos, a extração de petróleo e minério de ferro e, no varejo, o setor de supermercados. “Mas mais importante do que isso é que os dados mostram recuperação razoável em maio e junho”, afirmou.
Tendo como ponto de partida a primeira quinzena de março — período anterior às medidas de confinamento e, por isso, usado como “base 100” — o indicador diário de atividade do Itaú recuou para 66 em abril, subiu para 73 em maio e, nos primeiros 14 dias de junho, ficou em 82. A média móvel dos últimos 7 dias está em nível um pouco maior (84).
Barbosa estima de forma preliminar que a produção industrial subiu 6% no mês passado, enquanto o volume prestado de serviços deve ter aumentado 5% e as vendas do varejo ampliado, que incluem automóveis e material de construção, avançaram na ordem de 10%.
“Vejo os dados melhorando. A queda do PIB no segundo trimestre será grande, mas não tão pronunciada”, disse.
Na projeção do Itaú, a economia vai recuar 10,6% ante os três meses anteriores, mas o ‘tracking’ diário está apontando redução de 8,7%, observa o economista.
Como os dados já disponíveis de maio e junho mostram alguma recuperação em relação ao quarto do mês do ano, ainda que modesta, o tombo de 15% projetado para o PIB de abril a junho deve ser revisto, aponta Daniel Silva, economista da Novus Capital. “Frente às expectativas iniciais, a impressão é que o fundo do poço foi menor do que se estimava, o que é uma notícia um pouco mais positiva para a atividade”, disse Silva.
Para o mês passado, a expedição de papelão ondulado, o movimento de automóveis nas rodovias e a produção de veículos indicam avanço de 5% da produção industrial no período, estima o economista da Novus. Já o volume prestado de serviços deve ter subido 4%, e as vendas no varejo ampliado, cerca de 6%. “Em nível, é uma recuperação muito tímida, mas mostra que a queda do PIB no segundo trimestre pode ser mais perto de 10%”. A previsão de retração de 7,5% para o PIB em 2020 também tem viés de alta, acrescentou, mas dificilmente o tombo será menor do que 5%.
Devido à natureza da crise atual, cujos efeitos sobre a interrupção da oferta e a queda da demanda não têm comparativo, havia muita incerteza sobre qual seria o tamanho do choque negativo em abril, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos. Isso pode explicar por que os indicadores de atividade não tenham confirmado projeções mais pessimistas para o período, diz Marcela.
“Os dados já conhecidos e a visão de que haverá reabertura gradual da economia tiraram do radar um cenário de cauda, de retração de 15% no segundo trimestre”, disse a economista-chefe da Claritas, que trabalha com redução de 11,3% do PIB em relação aos três meses terminados em março. E o risco, em sua visão, é de que a contração seja um pouco menor.
Apontam nessa direção, de acordo com a economista, o aumento de 11,1% das vendas de automóveis entre abril e maio, o avanço de 22,1% do fluxo pedagiado de veículos nas estradas em igual período e a retomada da produção de veículos no mês passado, que ficou praticamente parada em abril. Em maio, foram montadas 43,1 mil unidades, ante 3,6 mil na medição anterior. “Com todas essas informações, esperamos alta de 5,7% da produção industrial em maio. Como tivemos dificuldade de projetar o tamanho da queda, não podemos subestimar o tamanho da volta”, disse.
Os economistas destacam, no entanto, que o cenário à frente segue desafiador. Mesmo com a ajuda do governo a empresas e famílias, o efeito no PIB não será relevante, avalia Silva, da Novus. “Não temos certeza se essas medidas estão sendo suficientes, porque não sabemos se as empresas vão receber os recursos e se, no caso das famílias, eles serão revertidos para consumo. Podem virar poupança”. Há, ainda, a elevada incerteza econômica, política e também em relação ao ambiente externo e à própria evolução da covid-19, acrescenta ele.
Fonte: Aço Brasil